A queda

a queda de um escritor não é apenas tombar

é falhar a tinta da caneta

desenvolver um medo de perder a cabeça

e transbordar pelo ralo junto aos cabelos sua arte

A queda de um bardo é além de quebrarem seu instrumento

é mais do que cortar seus dedos e sofrer de amnesia

Esquecer o nome da musa que te fez sair do quarto

e ser visto enquanto chora

a queda de um poeta é maior que qualquer tempestade

é não saber de onde vem o trovão que anuncia a chuva

molhar suas folhas recheadas de versos escritos a caneta

ver desmanchar toda aquela dor refinada em arte

a queda de um homem é esquecer que já foi menino

usar seus braços para mostrar-se dominante em seu abrigo

e ameaçar aqueles que dependiam de sua proteção

e jamais poder voltar a sorrir nos braços de sua amada

a queda deste poeta foi perder tudo e ser preso por um muro

ver cortarem de meu peito o amor, prenderem meus dedos nas engrenagens econômicas

ouvir os trovões enquanto tentava repousar

e acordar com carência de seu abraço

Alvaro Kitro
Enviado por Alvaro Kitro em 18/02/2022
Código do texto: T7455392
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