Dá-me asas
Leva as minhas palavras
Traz-me a história que tu desejares
Concretiza os meus sonhos
Em prole da minha felicidade
Mesmo desacreditada
Faz deles a minha realidade
Leva-lhe pássaro a minha carta
Atravessa o oriente e ocidente
Mares e terras de cheiros diferentes
Sem poeira, com essência ainda do meu perfume…
Como amavas tu o meu perfume
Aromas que te pararam no tempo
Na época que se perdeu.
Devolve-lhe a minha caixa de segredos
As alianças, as juras de amor, as ligaduras
A história, o passado, as crenças, as loucuras
As cartas, as noites mal dormidas, a fome e o frio.
Leva-lhe a mordaça que me engasgou
As pedras que me foram atiradas
O sangue que da minha alma desaguou
Os cacos do meu coração.
Devolve-lhe as minhas lágrimas
Os pesadelos, os alimentos que ficaram na mesa
A fraqueza das minhas mãos
A agonia e o desespero
Dá-me asas para que eu mesma te dê tudo
Dá-me asas para que possa voar
Dá-me asas para que eu limpe a dor
E em lugar do grito te devolva o meu olhar.
E aí,
Não precisamos nós de pássaros.