FUTILIDADE

 

Às vezes

O ressentimento

Vem de um espelho invertido

Onde alguém se mira

E enxerga outro rosto

Que nunca foi

Ou jamais será

Seu próprio rosto

(E eles sabem disso).

 

É abominável,

E incompreensível

Que um mero sorriso

Possa erguer no outro

Altas labaredas,

Ígneas paredes

De puro desgosto.

 

Há mentes que se contorcem

Diante de tudo que é belo:

Diante do véu de seda,

Do brilho da pequena estrela,

Do lago silencioso,

Do olhar de paz e torpor,

Ou da voz despretenciosa

De um mero trovador.

 

E a cada dia, aumentam

As distâncias ressentidas,

Pois a dor de querer ser

O que não se pode na vida,

É voraz, insuportável,

Tanto para quem deseja

Quanto para o objeto

Que é sempre desejado.

 

 

 

 

 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 10/06/2022
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