Mudança
Parti naquela nave de sonhos, meu pai
E uma mulher com pés de bailarina apontou-me a direção
Mas não segui. Permaneci estática, como a estátua
Que vimos na praça, quando eu ainda cabia nos teus braços.
Mas parti, meu pai, parti
Pois aqui o coração não cabe
Não nesse prédio onde as paredes falam
Onde não existe varanda ou pôr do sol
E as pessoas são etéreas como sombras.
Arrumei meus sonhos, minha caixinha de música
Meus livros e anotações, minha saia azul de barras brancas
Como um céu ao avesso, no qual despenco
Mas não há chão nem mágoas no final
Apenas o infinito de nuvens, e o esquecimento.