NÃO SONHO MAIS

 

Se eu sonhasse agora,

Como sonhava outrora.

 

Quando eu era flor menina,

Na verdejante campina.

 

Quando eu era a menina Maria,

Na poesia da periferia.

 

Eu não teria este olhar baço,

Esta desilusão, este cansaço.

 

Este não sei o que faço de mim,

Eu não diria para o descompasso, sim.

 

Não viveria dias tão iguais,

Tão breus, pois eu não sonho mais.

 

Meus sonhos perderam aragem,

Desalaram; ficaram na margem,

 

Da vida, nos desencontros, nas interrogações,

Ficaram nas entristecidas canções,

 

No vestido de fita dourada,

Nas páginas dos contos de fada.

 

Hoje Maria é outra,

É complexidade, alma envolta,

 

Pela impiedosa realidade,

Maria quase vencida pela idade.

 

Maria sem ação no vão da janela,

Amou... viveu para tantos, menos para ela.

 

(Para minha mãe)