OLHOS NO ESPELHO
A luz da aurora,
Entra pelo vão da janela,
No retângulo do espelho, ela,
Se contempla assustada,
Um olhar sem nuança,
A cabeleira esbranquiçada,
As profundas rugas, que decora,
Sua face, retira do espelho o olhar,
Sou eu mesma aquela,
Envelhecida na imagem?
Se pergunta calada,
Retoma o olhar... é sou eu sim,
Como estou acabada,
O que fizeram de mim,
Divaga... faz uma viagem,
Busca em suas lembranças,
A mulher de outrora,
A mulher solta no vento,
Pele suave, contentamento,
A mulher de vestido rodado,
De laço vermelho de fita,
Até que era bonita,
A mulher que sonhou...
Se entregou ao amor primeiro,
Sentimento verdadeiro,
Mulher que viveu um filme encantado,
Só no começo, depois, tudo cinzelado,
Foi mudado o roteiro,
Somente ela amou...
Se privou da liberdade,
Se livrar? não era tão fácil se livrar,
Das garras de um desequilibrado,
Ainda hoje não é,
Fé?
Se não tivesse, já era,
Já tinha perdido a lucidez,
Não teria dado vez,
A tantas primaveras,
E havia as crianças,
A dependência financeira,
O não pode da religiosidade,
Coisas que não cabem em uma poesia,
Árdua travessia,
Todavia, sem liberdade,
E lá se foi uma vida inteira.
Agora, quase fim da linha,
E eu aqui sozinha,
Eu e meu confortável estado,
De viuvez.
Se distancia do espelho devagar,
Há mais um dia para viver...
A vida é mesmo assim,
E não há o que fazer.
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O TEMPO
Tudo passa, tudo passa,
de repente vai-se a graça
que eu tinha, que era minha...
Porém o tempo a roubou,
tudo, tudo me tomou.
É realmente um algoz,
o tempo ele é feroz,
mas entrego ao Senhor,
que é todo paz e amor,
e de achar a solução
pra alma e para o coração.