Prece Noturna
A demência em vão dizima
O espectro da esperança.
Remexo no rumo da rima
Como a mais triste criança.
Na ruína de todas as crenças
Busco o eterno segredo.
Que cure nossas doenças
Livrando-nos da culpa e do medo.
Sou uma sombra oriunda
Da fecundidade da dor.
Onde as santas mais vagabundas
Copulam com o anjo infrator.
Escuto os gritos da mágoa
Espremerem-me o peito.
Lágrimas somente são água
Na busca de calor, e de leito.
Sofro tantas tristezas, enfim,
Como anjo condenado.
Reino na noite, na luz do festim,
De ferimentos embriagado!