Prece Noturna

A demência em vão dizima

O espectro da esperança.

Remexo no rumo da rima

Como a mais triste criança.

Na ruína de todas as crenças

Busco o eterno segredo.

Que cure nossas doenças

Livrando-nos da culpa e do medo.

Sou uma sombra oriunda

Da fecundidade da dor.

Onde as santas mais vagabundas

Copulam com o anjo infrator.

Escuto os gritos da mágoa

Espremerem-me o peito.

Lágrimas somente são água

Na busca de calor, e de leito.

Sofro tantas tristezas, enfim,

Como anjo condenado.

Reino na noite, na luz do festim,

De ferimentos embriagado!

Luis Felipe Saratt
Enviado por Luis Felipe Saratt em 04/12/2007
Reeditado em 04/10/2008
Código do texto: T765015