Meu parnaso

E num parnaso além-tempo

Serei a eterna, a imorredoura,

A que viveu morrendo

E a que não morre.

Serei a esfera fosca

E a pluma flamejante,

A que se desfaz no tempo

Se desmanchando em saudade.

A que era louca e santa.

Serei a que inaugura

E a que encerra:

Paixões, lágrimas, sorrisos.

A que foi etérea.

Em tal parnaso serei estrela

Sem fusão nuclear,

Serei poeta sem palavras

Existência sem matéria

Fluido. Gas. Ar.

Em algum lugar talvez eu seja

Um pouco de fogo

Um pouco de terra

Um pouco de água.

E ao longe terei sido

Ou não serei senão memória

Que o tempo apaga

Com a grande borracha

Da indiferença.