Poeta Morto
Era, pois um doente que morria,
Com a mente consumida e deturpada
De uma febre e tremenda hemorragia
E uma alma efêmera derramada.
Sua dor poucos notariam,
Pois sempre escondeu os seus temores.
E as queixas que por vezes apareciam
Mostravam muito pouco seus horrores.
Uma rota sofreguidão lhe acometeu
Ao um dia recusar-se em expressar
E a foice certeira então desceu
Para enfim no umbral o colocar
Revelando para ele muitos aflitos
Sem dar-lhe o poder de abafar
Com a mão ou outra coisa eternos gritos
Dos que estavam para sempre a chorar.
Os mortos tensos vinham lhe procurar
Para ouvir um pouco do seu canto.
E uma eternidade se curvar
Na exatidão de tal encontro.
Mesmo a semeadora foi incapaz
De tirar-lhe a fama que o acompanha
Dando um giro a foice se desfaz
Revelando assim a sua sanha.
Sua inspiração foi bem mais forte
Se virou, rumou ora pro norte
E enganou assim o ser profano.
Revalando assim grandes segredos
E deixou pra trás todos os seus medos
Rumando para o eterno seu Patrono.