Partida

Esta noite, ninguém sentirá minha falta.

Fecharei a janela e a porta do quarto.

Vou andar, viajar, mas não sei quando parto,

mas irei anotar num caderno sem pauta.

Meu destino, ninguém saberá, nem mesmo eu.

Por veredas perdidas irei solitário.

Cada gota de chuva será meu salário,

bem assim como o espaço será todo meu.

Muitos dias e noites, riachos e pontes,

cidades, lugares quaisquer, vilarejos...

Em meu peito, meu lar, haverá mil desejos

de existir, descobrir, desvendar horizontes.

Percorrendo mil rotas, caminhos agrestes,

eu conheço, percebo, encontro a beleza

neste encanto, magia, vivaz natureza

deste verde mais vivo, de azul mais celeste.

Sou viajante, sou alma penada, errante

ao sabor das marés, no balanço dos ventos.

Um descanso, alívio pros meus sofrimentos,

numa terra chegar, paradeiro distante.

Andarilho perdido, tornei-me, porém,

caminhei por estradas, estepes, vastas áreas.

Um gentio, mais um nômade, pária entre os párias,

viajante sem pátria, tão só, sem ninguém.

Tenho o céu para testemunhar minha vida,

pois nem sei quem eu sou, minha fé, o que quero.

Acabou! Sem amor, nem favor, nada espero.

Só sobrou-me a angústia do adeus da partida...