Vita Brevis

Ó enfermidade, flagelo imerso de abismos fortes,

Teu manto frio, teu hálito de tristeza e morte!

Em ti repousa toda a ausência de alvorecer,

A vida escoa como secas lágrimas neste chover.

Nas anêmicas artérias corre o taciturno veneno,

A ânsia do ato de viver_ este vão desejo pelo pleno_

E cá na alma a morte, cruel e maldita companheira,

Olha de dentro do meu olhar: silente, lugente e ligeira.

Ah, noite sem luz, céu morto de estrelas e luar,

A face do vazio a rondar tudo e a me atormentar!

A angústia, bipolar atormentada e dura amiga,

É a escura sina de quem a esperança inda abriga?!

Nas sombras gélidas e ígneas desse abismo vão

A esperança geme e suplica e canta, louca e cruel,

Como o grito do lamento do pensamento, em aflição,

Neste mundo de fel onde a vida é breve e o fim é fiel.

A morte, mão patológica e intransigente,

Caminha ao nosso lado, silenciosa e certa:

É o destino inexorável, o último beijo iminente,

Que nos aguarda sempre antes da cova decerta.

Em cada casa e leito, nos olhos de quem sofre,

A doença e a aflição tecem sua teia de sombras,

E o peito, na dor do coração, pela angústia incorre,

Na maleza do soluço, na tristeza que assombra.

E ao contemplar o rosto implacável da morte,

A alma treme, se agita, trôpega em seu passo:

Chorai, que é o abismo sem fim; o último norte,

A cova abominável, poço sem água e luz do lasso.

A alegria, qual leve sombra outonal, logo se esvai,

E o óbito é o pleno pó pálido de todo ente e ser corruptível.

Na festança fúnebre das almas mortas, a vida então cai e se vai,

E o que há além da porta da morte sempre será intraduzível.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 10/09/2023
Reeditado em 10/09/2023
Código do texto: T7882033
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