Meu Grito


O grito não saiu.
Mas a garganta ele feriu.
A dor que infringiu
Não tem limites.
O brado alto ninguém ouviu
Só eu, no silêncio de mim.
Aquele grito de cuidado
Mesmo tudo estremecendo
Ninguém ouviu
Ficou perdido
Caído num canto
Esfolado,
esperneando,
mudo...
A voz mais parecia de animal
Acuado,
Enjaulado,
Prisioneiro.
O ruído estridente
Quente
Doente
De repente
Acabou silente...
Sossego aparente,
Quem dorme calmamente?
Tranqüilamente?
Ouço o grito da madrugada
Calada
Da jornada dramática
Do silêncio atordoante...
Ouço o grito dos passos
Que não chegam
Ouço o grito da consciência.
Acusadora!
Desumana!
Opressora!
Ouço o grito da menina
Na cama soluçando baixo...
Ouço o grito da infelicidade
Pois felicidade não foi feita
Para ficar escondida!...
Ouço o grito, calado, da decepção...
Ouço o meu grito...
Cansado,
O meu, só meu... grito.
Grito!!!! Grito!!!
Não!!!. Não é assim !!1
Isso não vai terminar bem!!!
Peço por Deus...
Grito: Deus!
Acode-nos.
Precisamos de ti
Com urgência...
Ouve meu grito
Que faço de tudo
Pra chegar aos teus ouvidos
Já que aqui não consegui.
Meu grito me dói...
Sinto dor no peito
De tanto gritar
E ninguém me ouve
Meu grito parou,
Escandalizou...
Magoou
Feriu
E não adiantou.
Deus, ouve meu grito!
Ouve meu chamado,
A menina está em perigo.
Ouve meu grito;
Meus tímpanos já doem
Os sinos já tocam,
Música?
Alta demais...
Abafa meu grito.
Grito meus ais para mim...
Pratica-se a violência
E ninguém enxerga?
Nem aos meus gritos?...
Falta ânimo até para gritar?
Não há espaços para pensar?
O meu grito não ocupa
Esse espaço?
Ele está vazio...
Eu grito... no vazio...
Da alma,
Da tristeza,
Da agonia...
Meu grito foi vencido...
Meu sonho esmaecido,
Derretido
Desfeito
Só lamento...
Meu grito..
Deixe em paz
O meu peito
Desfeito
Imperfeito
Meu grito, não me queime...
Faço-lhe este pedido
Pois, mesmo tendo morrido
De agonia,
Não fiquei louca
Te ouvindo
O tempo todo
À toa
Sem de nada adiantar...
Quem é que causa este grito?
Tem rosto?
Tem nome?
Tem endereço?
Eu grito: Quem é??????
Quem é este ser
Mutante,
Repugnante
Que chegou de repente
De forma tão prepotente?
Eu grito: que me escutem!
Por que se oculta?
Tem o que esconder?
Por que quer de alguém se valer?
Eu grito!!!! Griiitooo!
Banalidade,
Futilidade
Irracionalidade...
O dia amanheceu,
Meu grito morreu...
Se perdeu...
E a menina?
Não apareceu...
Eu grito:
Eu quero a menina!
A minha....
Grito...
No silêncio da sala vazia...
Mas grito...
E tenho certeza
que ela está ouvindo este grito
Porque é o grito de mãe
Que ama.
Tenho certeza que ela ouve
Porque o grito vem do meu útero.
Tenho certeza que este grito ela ouve:
O das entranhas...
Profundo... agudo...










30/10/2005 , São Paulo.