Recordatório

De tudo de mal que sobre mim recaiu,

da falsa ilusão de que o amor me sorriria,

da tola percepção de que a essência triunfaria,

para agonizar em um abismo de vazio e solidão,

retornando ao lugar que me parece ter sido sempre meu,

na escuridão silenciosa de uma existência angustiada,

na melancolia fria da dor que se mantêm única,

do sofrimento que permanece quando todos se vão,

da nota única que vez por outra o vento dedilha

no violão encostado na parede como recordatório,

de um breve tempo de música e esperanças,

ah, desventura! Ah, delírio e entorpecimento,

em uma alma aprisionada em grades eternas,

na maldição de histórias sacralizadas em pesadelos,

o rio segue seu fluxo sem importar-se com as lágrimas

que em suas margens são depositadas como oferendas,

um triste ritual de poetas desolados que buscam consolo,

mas só encontram desamor e desabono,

porque afinal, não há como perdoar os infiéis,

aqueles que teimam em seguir caminhos destoantes,

para eles somente a consumição da tristeza,

esquecimento, desvalorização, invisibilidade,

no redemoinho de incertezas e impossibilidade de retorno...