Um coração ferido

Um coração ferido,

carrego ele comigo,

e nem faz tanto tempo,

com cuidado ao me mover,

dói a cada novo passo,

nem pensar em correr,

nem ousar tropeçar,

foi esfaqueado logo ali,

meio palmo abaixo do pescoço,

quando batia forte,

quando apaixonado,

quando desatento,

quando desprotegido,

entregue as coisas do amor,

vivendo de utopias poéticas,

sangrou só e tristemente,

quase um lago tingido vermelho,

sem nenhuma trilha sonora,

sem ninguém para confortá-lo,

sem acalento ou incentivo,

as lágrimas acompanhando,

os tremores de quem estava indo,

um medo de morrer sozinho,

sem ter feito a diferença,

uma angústia de não importar,

de passar em brancas nuvens,

uma mágoa de ter se doado,

e não ter reciprocidade,

uma desilusão pontual,

com alguém insensível,

mas foi salvo no hospital,

agora está remendado,

costurado com linha cirúrgica,

anestesiado com alguns comprimidos,

esperando o tempo curar sua dor,

esperando a terapia curar seu medo,

esperando a vida curar sua desconfiança...