Nua

Dispo-me diante do espelho da vida,

mostrando a pele da alma fria e enrugada;

o tempo vivido de forma entristecida,

que vagou sozinho em cada madrugada.

Tiro as luvas da paixão por ti sentidas,

a mostrar os dedos, que em sonhos tocavam

teu corpo deitado nas minhas medidas,

no leito de amor que dois corpos se amavam.

Rasgo as sedas que de prazeres te encantaram,

das pernas entre-abertas que com carinho,

tantas noites que as tuas entrelaçaram,

no aconchego e deleite do meu ninho.

Dispo o corpo que tanto os teus olhos desejou,

Dos seios ao ventre, tua boca embeveceu;

da cabeça aos pés o teu corpo, o meu conquistou,

tanto amor...loucura...e agora tudo morreu.

A alma nua, mostra-te as marcas dessa saudade,

que deixastes na pele fria em solidão;

O meu corpo sorveu a tua crueldade,

e a morte etérea alojada no coração.

Perdidas, estão cada vestes do meu ego,

sofrida, deixou largada a minha vontade;

aos olhos de um homem frio, ríspido e cego,

que plantou em mim, toda a sua maldade.

Este corpo que antes era vida, feneceu,

Nada mais resta, nada...além da lembrança;

e agora, minha alegria desapareceu,

Morreu em mim o doce olhar da criança.

Anna Müller
Enviado por Anna Müller em 02/12/2005
Código do texto: T79860