Depressa ão

Os segundos continuam jorrando

E o seu barulho não para

E não é como água de um jardim japonês

Se não é um ritual de calma

Porque são os ponteiros girando

E não consegue absorver

Se o tempo continua sem volta

Todo dia, sem armadura para se proteger

E vive em um ritmo sem pausa

E sente a vida e sua aridez

E não há nada que o conforta

E sabe que apenas as perdas reter

E a memória é um mausoléu de almas

E de muitas luas que se vê

Todo dia, sem barreira que o isola

E bate na madeira, porque também crê

E ainda acredita na história

Mas sem distrações para se entreter

Não é a própria respiração nem suas revoltas

Quando não há mais ação além da desolação que sente e chora

De ver tudo passando como um clarão

De depressão

E pensar que nada disso importa

Sem qualquer significado ou razão

Além de uma completa falta

de emoção

E pensa em abrir aquela porta

De onde ninguém retorna

Achando que há mais luz lá fora

Mas é apenas mais uma ilusão

E, então, sai desse transe e conclui que viver é a única explicação

Vai à geladeira e come metade da torta

Ah, como esse vício é bom!!