FRAGMENTOS

 

Dona Aurora

Chora

O filho seu

Filho que se perdeu

Nas reticências

Da existência.

Uma dor que a devora

Rasga o seu interior

Dor que monitora

O seu olhar

Lesa – pesa – vigia

Não deixa a alegria

Aflorar.

Dona Aurora

Mora

Na periferia

Da periferia

Vila do acaba mundo

Tem um arrependimento

Profundo

De deixar a terra natal,

De lá pra cá só desgraça

Fragmentos

Vida baça

Sem sentido

Marido...?

Apenas um a ilusão

Deixou-a sozinha

Com um mês

De gravidez

Partiu no vão da madrugada

Labuta descomunal

Miséria – afronta

E para completar

O único filho

Saiu dos trilhos

Virou bandido

Morreu no acerto de contas.

Dona Aurora

Ignora

Tudo o que fez

O amor derramado

O cuidado

A educação

A atenção

Que ela deu

Coitada!

Se sente culpada

Pelo filho morto

O destino torto

Que ele traçou.

Dona Aurora

Deseja ir embora

Pegar o último trem

Sumir simplesmente

Da dor

Da lida

De se ver submetida

A tanto dissabor

Implora

A morte também

Inexplicavelmente

Ela não vem...

 

 

DELEY
Enviado por DELEY em 26/02/2024
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