Dias em que somos cinza
Se não me distraio
Encontro uma parte de mim
Aquela que queria evitar
Ela ficava escondido debaixo de uma pilha de trabalho, de fugas, de festas
Essa parte precisa existir
Pra isso tenho que encarar
Se eu não olhar eu vou sentir
Às vezes ela submerge e sinto uma dor profunda
Esse é um lugar de pesquisa
Onde mora a angústia, mora o desejo, um só existe por causa do outro
Eu tento mas o acaso não é programado
Tento controlar aquilo que não tem forma nem alça pra segurar
Por isso evito sempre
Porque não controlo meus sentimentos
E quando sinto, sinto tanto, tanto que adoeço
É mal dos poetas? Amar sem medidas
Minha intensidade é rebelde
Não me obedece e é pouco compreendida pelos demais
E nosso tempo é fugaz
As pessoas se escondem na superficialidade
Viver o amor que arde na carne é pra poucos
É para os corajosos por isso merecem
A maioria apenas se conforma com uma vida morna e infeliz
Eu sei que existe algo mais além
Não me conformo
Apenas me confronto
E nesse conflito nasce fagulhas
Talvez pistas de respostas
Solto a corda que aperta minha mão
Mas ainda sinto o ematoma
Ele me lembra porque chorei
E às vezes ainda choro
Mas não tem ninguém pra te salvar de si mesmo
Sinto tudo no fundo do meu coração
Coração machucado
Por isso me resguardo
Um paradoxo
A gente só sabe se tentar
E nessa altura do campeonato
Eu não aguento mais chorar
Talvez eu não mereça ser amada
Logo eu, que transbordo o peito
Respiro fundo até meu corpo ficar calmo
Desisto de amar e pensar nesse assunto idiota
Vou embrutecendo e congelando aquilo que é tão quente, o peito
Talvez a morte me cabesse bem
Já morri tantas vezes que a ideia de não acordar nunca mais não me apavora
Sinto falta da praia
Meu lugar favorito no mundo
Me faz respirar paz
Deve ser porque me conecto com o útero molhado
Uma espécie de retorno ao que somos
Aquele som das ondas quebrando
É a música mais perfeita pra sintonizar