Descontentamento em viver pra você

Sinto um nó na garganta

nó indecifrável,

clichê

amargo café sem açúcar

um amargo que é um nó.

Um nó que sou eu.

...acordar pela tarde e ter que suportar os risos

os delírios alucinantes

os passeios de família

ter que te suportar com sua frigidez amorosa

disfarçada de luto imoral

ter de ser eu quando queria vender doces

sair nu pela avenida

rolar no chão,

lama na boca,

terra no cabelo

dedo pro céu

Deus no lugar do impossível

e vou me descontentando em ser fiel às dores fátuas

que vibram dentro da minha gengiva

e você transpirando pela inércia da sua tolice

tolice americana de ser bela

em ser possível

transformável

viver pra você

é guerra na alma

é luz na neblina da morte

-Não escrevo pra você ser feliz!

Escrevo para que morra e se parta em vidrilhos tão caleidoscópicos quanto suas pernas no verão do meu passado

não me aceito

não me aceito

não sem você

não sem nós

não sem um acordo entre minha dúvida e sua realidade

lembre-se de mim na sua janela

já é hora de eu ser mais livre que ser humano

mais forte que minhas pálpebras

Desculpe-me se hoje eu decidi morrer

para viver numa elipse de você

mas minha força é água em deserto que não acaba nunca

e vida que não começa mais

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 02/12/2005
Reeditado em 01/02/2006
Código do texto: T80179