LAMA

É tudo o que resta

De papeizinhos

De Sobrenomes

Que alguns tanto exaltavam

De povos italos-germânicos, eslavos

Antes fugiram da fome, do morrer

Aqui fizeram seu sangue crescer

Aquela cadeira na árvore içada, via a nona sentada

Dos bolinhos de fubá

Das xícaras dos cafés

Heranças do nada...

Aquele pano que me vestia

Um sapato gasto

Um pé sobra num telhado

Tudo é lama

Tudo a água levou

Antes levamos os pampas

Antes a araucária tombou

Antes a onça no mato fugiu

Pra bem longe, bem longe...

E na floresta do bugiu

Antes encantada

Encantado ficou

Embaixo d'água...

Éramos lama

Do pó viestes

E a ele voltarás

Voltamos...

E enterramos o passado humano sob ela

Dos tempos que não voltam mais

O teto que já não há

E um futuro que não existe

E das mãos de quem pode fazê-lo

Jamais existirá

Madame F
Enviado por Madame F em 11/05/2024
Reeditado em 13/05/2024
Código do texto: T8061062
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