Lembrança
Devo ser mesmo o último vivente
Que conheceu o já tão decrescente
Pilar humano de suprema dor
Hoje a palavra apenas é lembrada
Como reflexo, imagem quebrada
Da poesia que já foi o Amor.
Não acredito mais nessa demência
Não quero mais, não tenho paciência
Para conter essa maldita dor.
Vou do solstício ao equinócio frio
Banhar-me nu nas águas de algum rio
Para limpar essa impura cor.
Fermento a dor nesse esquecimento
Trazendo as feras más desse tormento
De volta à vida pra morrer mil vezes.
E então tal sentimento a revelia
Parece decrescente à covardia
Que se lhe açoita todos esses meses.
Volvendo agora sinto a mudança
Levar de volta aos tempos de criança
Os sentimentos que eu não quero mais
Porém, não sei se sou iniciante
Para cair nas mãos de tal amante
Quero de volta a minha antiga paz.