Para meu filho Flavio (morto atropelado)

PARA MEU FILHO FLAVIO.

Ele hoje tem onze anos, a mesma idade que tinha há trinta anos

Quando se foi de mim.

E eu, adquiri o poder de zombar da

Morte, pois hoje sou testemunha viva da imortalidade da ALMA.

O AUTOR.

Quando nascestes, pleno de alegrias

Fiquei, pois eras o filho que esperava,

Filhas, já duas tinha, mas sonhava

Contigo, e era crente que virias.

Eras meu primogênito, e serias,

Meu discípulo, amigo e companheiro,

E eu teu pai, teu mestre e conselheiro,

Vibrando com as conquistas que farias.

Quando nascestes muito jovem eu era,

Ainda quase que um adolescente,

Mais me senti guindado de repente

A um estágio maior que tu trouxera,

Meu sonhar me levava a outra esfera,

Do tempo, onde um jovem te antevia,

Robusto, que lutava e que corria,

Comigo ainda jovem, Ah quem me dera!

O destino traça em seus pergaminhos,

Veredas conflitantes às que traçamos,

E às vezes, embora não queiramos,

Ao invés de flores semeamos espinhos,

Nas eiras que cuidamos com carinhos,

Em vazios de sonhos nos tornando.

Não tinhas tu, três anos ainda, quando

A vida separou nossos caminhos.

Por nove anos sonhei em reaver-te,

Como meu primogênito, e redimir-me,

Sentir a ti, e a ti fazer sentir-me,

Como um rio de amor a preencher-te.

A emoção que ressenti ao ver-te,

Com onze anos, já um rapazinho,

Foi a mesma de ver-te bebezinho

Na inesquecível noite em que nasceste.

Ao trazer-te comigo, em ti trazias,

O destino cruel que recebestes,

Dois anos após nascer tu me perdestes,

Três meses após reaver-me, partirias.

Ah se eu soubesse que assim te irias,

Imploraria a DEUS que nossa sorte

Fosse trocada, e quando ao vir à morte,

Levasse-me, e assim tu viverias.

Só onze anos tinhas, e ali prostrado,

Pela sorte cruel que te escolhera

Como vítima de alguém que te colhera,

Na calçada, ao volante, embriagado.

Depois fugira, deixando-te ali jogado,

Qual fora cão sem dono, ao relento,

Complementando o crime violento,

De uma vida humana haver ceifado.

Sei que teu tempo havias completado,

Contra DEUS não blasfemo, só maldigo,

Porque tão pouco convivi contigo,

Dos onze anos, tempo a ti legado.

Hoje em sonhos, eu vejo no passado,

Tu, alegre e esperto, como eras,

E as alegrias imensas que me deras,

Ao nasceres, e ao vires p’ro meu lado.

És para mim um membro que perdi,

Parte da minha vida, que amputada,

Deixou em seu lugar um grande nada,

Repleto de amarguras que senti.

As dores imensas que então sofri,

A mim é impossível descrevê-las,

Pois relembrá-las, é de novo tê-las,

É reviver a morte que eu morri

Mestre Egídio
Enviado por Mestre Egídio em 24/01/2008
Código do texto: T831645