Continuando no nada
"Você não é nada
Veja-se no espelho
Você não é nada
Quem é você?"
Procuro um espelho
Só encontro o espelho d’água
Reflete minha imagem em ondas
Continuo em movimento
Tento apalpar minha imagem
Saio com as mãos molhadas
Sem reter a matéria
Apenas a sensação do meu eu
Insisto em ver minha imagem
Percebo meu rosto pelas mãos
Sinto minha pele
Meu coração a palpitar
Vejo-me então diante do espelho
Aquele de vidro, prateado, emoldurado.
Reflete um corpo comum
Não foge a espécie
Mas quero ver mais
Quero ver o que vai à alma
Quero ver o pensamento
A imagem do espírito
Tento todos os espelhos
Nenhum retrata meu interior
Faço então uma descoberta
Há imagens que não se podem ver
"Você não é nada
Veja-se no espelho
Você não é nada
Quem é você?"
Continuo a busca pela imagem
Ou miragem?
Faço uma introspectiva
Silencio!
Penso então em uma retrospectiva
Surge o filme de minha vida
Personagens, fatos, casos.
Longa caminhada
E surgem imagens!
Mil imagens!
Tantas que se sobrepõem
Umas às outras
Preciso ordená-las
Em grupos, pela importância.
Fazer legendas
Formar uma história!
Era uma vez...
"Você não é nada
Veja-se no espelho
Você não é nada
Quem é você?"
Era uma vez...
Foram três filhos
Dois maridos
Tantos namorados
Uma viagem aqui, outra acolá.
Vários países, volta ao mundo.
Vivenciando culturas
Buscando conhecimento
A faculdade como divisor de águas
A consciência do social
O redimensionamento do meu eu
Aprendendo nova linguagem
As terapias de consultório
Interiorização e reflexão
A virada de mesa
A coragem da decisão
E surgem imagens e mais imagens
São rostos, paisagens.
Tudo com muito movimento
Cheio de cor e de sons
E a história sai do espelho
Vira um filme documentário
Um longa metragem
Sucesso de bilheteria!