TODO MUNDO DIZ QUE O MORTO TÁ FELIZ!
TODO MUNDO DIZ QUE O MORTO TA FELIZ, MAS NINGUÉM QUER SE DEITAR NO SEU LUGAR.
Paulinho Manacá.
Vi o corpo deitado
No meio da sala,
O corpo deitado,
Sem furo de bala
O corpo coitado
Deitado na sala...
Cara de cansado.
Vi o olhar triste
Da família do morto
Que insiste
Num riso triste e dedo em riste,
No canto da boca
Persiste
Em dizer que a vida sem limites
Tem final trágico e triste.
Não é o caso do corpo,
A vida do morto
Não era suja.
Gostava de samba.
E quem não gosta?
Essa vida de fato é uma bosta!
E tem gente que fala e se posta
De honesto e dono da verdade.
No canto da sala o filho chora,
A viúva chora.
Porém agora
Não tem chance nenhuma
De voltar o finado,
De mudar o quadro.
É bola pra frente,
E não tem culpado.
No meio da porta,
Um pobre coitado
Com olhos fundos
Desesperado,
Aguardente do lado
E uma sacola.
Ninguém sabe o que tem
Ninguém sabe o que rola.
É o tira-gosto
Da festa de outrora.
Para o mundo pouco importa,
O homem se foi,
Inês já é morta.
E a família repete:
Ele ta feliz!
Eu não acredito.
Vai tomar no nariz!
Não adianta chorar
Foi como ele quis.
Viro as costas, vou embora.
Na sala, o corpo...
Na cabeça a memória
Guardando história do finado
Que não tem nada de coitado,
Na sala deitado entre flores
E a família tentando
Expressar as dores.