Dores do cotidiano

Quanta dor,

Homens e mulheres de branco perambulam de um lado para outro

Abrem portas e mais portas

Não conversam e fazem caras de mal

Tratada com naturalidade a morte assusta

A banalidade com o sofrimento humano entristece

Um homem idoso geme de um lado

Atrás de panos brancos uma mulher reclama do estômago

Do outro lado está uma criança com o rosto amarelado

No final do corredor muitos gritos e uma enfermeira fecha rapidamente a porta

É assustador esse lugar de paredes brancas e sujas

O terror é latente

A dor é patente

O sofrimento não dá tempo e é inquietante

Nos pingos dos remédios que caem

A tristeza enclausurada abate o sono daqueles que ainda clamam pela saúde

Lembro-me acordado do passado não distante e uma energia negativa retira o ar

Cochilo e o sono cai diante de um homem de branco que traz novas picadas para a pele

Nada fala

Fala nada

Nada sabe

Tenho vontade de matá-lo.

Sufocá-lo para extrair a verdade

E esse soro que continua a pingar, pingar, pingar...

Conto as gotas de medo e os minutos para sair dali

Nossa vida se esvai em gotas

E como elas parecem sinceras

Às vezes aumentam a velocidade, depois vão devagar...sou eu? Ou elas?

E lá vem uma mulher de branco apertar o cano de novo

O sangue se mistura e a vida é administrada

Os segredos corporais perdem o valor

Não há mais orifícios a esconder,

Segredos e anedotas somente entre eles...

Para os moribundos nada mais vale

A vida é um suspiro e, novamente lá se vai mais um homem de branco, mais outro...

Mais um passa, uma outra olha e abre um cínico sorriso.

Nada falam, nada, nada, nada.

E os pingos, um, dois, três...

E lá vão eles...

Um, dois, três... zzzzzzzz, zzzzzzzz, zzzzzzzz