CINZAS...
CINZAS...
Escorreguei num azul
Um azul avermelhado
Azul tingido, fingido
A vida às vezes me sorri
tão amarelo, sem graça
É dificultoso tudo
Tudo tão assim, amarelo
O real soa fictício
Até a sombra cinza
apareceu nessa manhã
Os canários, também
amarelos, não estavam
mais lá, só pardais, cinzas
Eu via as folhas verdes balançarem,
mas os corvos, negros, rodeavam-me
matinalmente
O meu encontro comigo
afastava-se eu sei
(Sei sem saber, sabe?)
O vento, já sem cor
cortava o fio da meada
do meu novelo desbotado
que não mais aquecia
ao menos meu coração
E a vida escorria num fio d’água
Um fio só
No espelho,
um sorriso pálido
esboçou-me choro