Dos amores e dos medos

*

Deixai-me surgir de novo

Entre os absurdos perniciosos

De tantas vidas

Entre os desejos quase insanos

De vozes paridas

Entre lanças medievais

De passados anos

Deixa-me viver de novo

Entre o riacho,

As pedras lisas e os musgos

Entre as dores,

Antes repartidas entre as malditas

E os dissabores...

Entre as facas

E os fusos.

Deixai-me ficar!

Porque a brisa longe do mar

Açoita os morros

dolorosamente

Entre a linha tênue

Do bater de asas da borboleta

E o penhasco

Deixai-me - brado -

Morrer de novo,

Entre o gosto do teu gozo

E a imensidão

No teu olhar

Porque sou apenas carne

E medo,

sobrevoando

Onde impera o vácuo...

Nem ao menos

Sonhos

Há.

(Jessiely Soares)