Requiem III "O Luto"

O Luto

O luto que chora um coração

É a mão do sofrer feito forja

Agrilhoando-o em prisão

Tecida de espinhos sedentos do sangue

Que sem piedade o aloja

O luto que derrama minha alma

Molda o barro da insanidade

Olaria noturna que rege meu ser

Dando forma à minha humanidade

Ferindo a fogo meu viver

O luto que soluça minha mente

Vulto de um delírio alucinado

Maltrata, queima e vira serpente

Envenena e mata sonhos

Enrola-se pelo insondado

O luto que invade meu corpo

Faz-me pagar o preço da sanidade

Negando-me inteiramente a fantasia

Priva-me até da oportunidade

De vislumbrar a melancolia

O luto que vence a minha realidade

Toma posse do pouco que sou

Vai e volta à vontade

Perde-me no limbo da escuridão

Que em si mesma me trancou

O luto que sobre mim se pôs

Infesta cada poro do que sou

Destila meu sangue no anoitecer

E nem mesmo um fio de mim lutou

A fim de libertar meu ser

Ana Pismel
Enviado por Ana Pismel em 20/03/2008
Código do texto: T909266