E agora, Carlos?

É resto de noite

Astros em restos no céu

Me resta recolher

O que resta de mim

Neste restante de horas

Resta um mínimo de lucidez

No fundo do copo

Onde resta um gole vazio

Que é o que me resta

Neste restaurante

Nesta festa

Onde restam restos de gente

Comidas e rastros de ratos

Resto de papos e gargalhadas

Respingados na mesa

Sou um restante

Uma lua minguante

Uma restinga de vida

Ainda lateja no que sobra

Do peito meu

Em restauração

Ainda resta um pedaço da noite

E lá vem o sol tentar suprir,

Resplandecer o que falta

Do rés da madrugada

Resoluto, respiro fundo

Me ponho a caminhar

Respeitando a chegada da manhã

Depois de tudo

O que me resta da festa

É tudo aquilo que me falta

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

As bancas se abrem

As notícias pioram

Olho em volta

Sou resto

Todos restam

E agora, Carlos?

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 07/04/2008
Reeditado em 08/04/2008
Código do texto: T935600