SOFREDORA

Dentro de mim tem um céu nublado,

Num dia de outono, frio e triste...

Na espiral infinita do universo não existe

Nenhum outro que se iguale!

Agora, olhando lá no fundo,

Percebo ainda uma fagulha candente,

Como se dessa forma latente

Quisesse esconder-se do mundo.

O desespero me invade de novo.

Dói-me a alma, a carne e todo o osso...

Neste vazio, grande fundo de poço.

Fico estagnada, dali nem me movo.

Deus! Por que não faz um milagre,

Pra que a primavera apareça

E a esperança em minha cabeça,

Novamente se consagre?

Em vez disso, confundem-me os pensamentos,

Meu cérebro se enche de endorfina,

Mas em seguida se amofina

No sussurrar de todos os lamentos.

Vai-me crescendo mais e mais essa aflição

E, por mais que alguém reprove,

Eu quero que me comprove

Que não há motivo pra tanta consternação.

Mais uma vez, sinto este céu,

Que apesar de ser assim

Ainda está dentro de mim

E não é céu, é puro fel!

As horas passam, a madrugada avança,

Retorno sem ver, pra este círculo medonho.

Minha cabeça se enche de sonho

E, volto a ser criança.

Como tal, começo a fazer arte.

Construo castelos de areia

Onde eu sempre sou a sereia

Que ganha e espalha alegria por toda a parte.

Mas, eis que de meu outono, volta o vento,

Que cruelmente a tudo destrói.

Ah! Como dói...

É o fim de meu firmamento.

O desespero se transforma em terremoto,

Acaba toda e qualquer estrutura

De plano ou felicidade futura.

E, com doer enorme, meu sonho picoto...

Apesar de toda esta dor e este infindo sofrer,

Por mais que eu quisesse ter tudo chorado,

Este maldito céu continua nublado!

Mas nada de começar a chover...

Cansada, desiludida e completamente perdida,

Deixo-me no chão cair

E, ali, observo todo o meu sonho ruir.

Não suportando mais, grito um ai, enlouquecida.

E, começo divagar em mais uma alucinação.

Sinto uma brisa suave e mansa

Que em meu âmago, a chama alcança.

E explode de novo a emoção.

Mas, quando só o arco-íris era pra ser sentido,

Ouço uma notícia que me joga de novo na fossa.

Morreu o sonho que não pude e, talvez, nunca possa.

A não ser morrer com ele, contido...

Assim, com esta verdade aterradora,

Tal uma ostra, retorno àquele dia nublado,

Onde vejo todo um sonho desmoronado.

E, continuo a ser só uma mulher sofredora.