O último desenhar

Desenhei nós dois como família num papel,

desenhei nosso menino rodando pião,

joelhos sujos, molecagens que preocupam a ti...

coisas de mãe.

Desenhei a natureza ao redor

e o sol a testemunhar a felicidade de tê-la por perto.

Abusei das cores vivas,

para tu perceber o quanto estou me sentindo forte,

apesar de saber que meus lápis estão chegando ao fim.

E isso dói, o médico constatou.

É maligno...

Os poucos lápis que me restam,

servirão para lhe mostrar, ou melhor, registrar os sonhos meus,

dos quais você faria parte.

Mas quem sairá de cena serei eu.

Deus mandou usar o apontador pela última vez...

Já o fiz.

Ouço teu choro por detrás da porta,

e quando vens ao meu encontro,

teu sorriso teatral me dá "bom dia".

Quero que guarde para ti os meus sonhos,

guarde-os no coração.

Também chorarei tua ausência quando for,

mas levarei comigo os traços teus,

pois você é um desenho de Deus.

A última ponta quebrou, partirei...

Segura forte minha mão e diga adeus...

Edwin Ataíde
Enviado por Edwin Ataíde em 05/01/2006
Código do texto: T94608