Cores, que cores?

Se vejo minha vida passar pelo mundo,

sem viço, sem sonhos, sem passos, sem nada,

é como a calçada depois de uma chuva,

aberta cratera de uma enxurrada...

Pedaços de mim, que fui esperança,

nos versos fazia minha morada...

Vivia no intenso com força e magia,

trazia nos olhos meus sonhos calada...

Do amor esperava um canto dolente,

que a mágoa ficasse de mim afastada...

Mãos dadas ao porvir, sorria contente,

moça bonita, mas tão recatada...

O mundo passando, abria o caminho,

vida florida, trabalho encantada...

Me achava tão bem, gostava da vida,

com um belo futuro sempre contava...

Jamais eu pensei que um dia sentisse,

que eu era prá vida a carta virada...

Nunca pensei em olhar para dentro

e ver que eu era folha descartada...

Folha que o vento não quis mais levar;

levar para onde, sem cores, ceivada...

Nem águas do rio querem embalar,

nas fontes cantantes meu triste cantar...

Não sinto as cores da vida vibrante,

não posso nos versos me ver consolada...

Sou um pedaço do que foi inteiro,

sou da Poesia a musa enterrada...

Que cores, que vida, que tempo, que espaço,

cortam meus sonhos no fio da espada...

Não valem lamentos, são fósseis inúteis,

migalhas de mesa que foi abastada...

Passos difíceis levam meu corpo,

me sinto doída e atordoada...

Sou minha sombra, nem sei por que ando,

não sei prá que escreve esta alma cansada!

(às 22:33 hs do dia 03/05/2008)

Mariza Monica
Enviado por Mariza Monica em 03/05/2008
Reeditado em 04/05/2008
Código do texto: T973865
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