Um dia perguntei a Deus...

Deus, por que destes a vida junto com a morte?

A resposta foi calada, mas eu insistia...

Em minha poesia, nunca negligenciava esta interrogação.

Meu coração não aceitava que a vida terminasse...

Que aqueles a quem amasse fossem de mim afastados...

Meu egoísta amor por minha mãe, me fazia desejar

que ela ainda estivesse aqui...

Mas ela queria partir... seu sofrimento era demais...

Eu sabia, mas não admitia perder aquela que eu tanta amava...

Minha mãe, a mulher que eu adorava dentro do coração...

Não porque me desse a vida, mas por que me ensinou a amar...

Ela, no entanto, cumprira sua parte na peregrinação

e não aguentava mais as dores físicas que a doença lhe dera...

Queria partir e eu queria tê-la comigo...

Quanta ignorância minha, quanto egoísmo o meu!

Eu deveria dar forças a ela para chegar a Deus,

mas era o contrário: ela me ensinava que a vida

vinha de Deus e para Ele retornava...

Ela era a mulher forte, que encarava a morte,

sem medo, com a confiança em Deus Pai;

com a certeza de que estaria com Ele...

E, mesmo passados 12 anos de saudade,

ela é a mestra e eu sequer a aprendiz...

Mas de tudo, ficou a lição... a conclusão final,

que hoje, aos 61 anos de idade, pela lógica e pela razão

eu aprendi: com lágrimas e saudades, com mágoas e tristezas...

Deus não precisa mais me dizer porque deu a vida junto com a morte...

Seria a coisa mais enfadonha da vida saber que a matéria seria eterna...

Mesmo que o envelhecimento não se desse,

que a fonte da juventude tudo pudesse,

permanecer no mundo para sempre,

vivendo as mesmas vaidades, as mesmas verdades,

os mesmos sonhos, as mesmas tristezas,

seria insuportável... Isso é inegável...

Por isso, Deus, sem dar explicação,

não havia necessidade, não era expiação,

nos mostrou que a eternidade existe, sim,

mas não aqui, pois não a suportaríamos, com certeza...

A morte é um alívio, uma forma de redenção...

Uma oportunidade de retornar às fagulhas divinas...

De reencontrar com entes queridos, que partiram,

e nos esperam para um abraço fraternal...

Enfim, a morte não é um mal, não é término, nem começo,

não é o direito, nem o avesso....

Não é a tumba, nem o pedestal...

A morte é, apenas, um sinal de Deus,

um chamado, um recado, esperando que digamos "presente"...

Porque se sente excluído, se é um filho de Deus...

Porque se sente amargurado, se é Dele um filho amado>

A morte é isso: reencontro, reconciliação...

As aparas das vaidades, as formas de igualdade...

Sem cores, sem prevenção...

Deus nos espera, enquanto vivemos

na doce ilusão de uma vida terrena...

Mergulhados no sexo, na vida de luxúria...

Sem saber quão espúria é a dor dessa paixão...

Deixando o amor de lado, o único que é velado

pelos anjos, na compaixão...

Sem sentirmos a mão do tempo,

queremos os toques da orgia...

E confundimos poesia com vida de baixo padrão...

Quanta ilusão... quanta necessidade de amor e compaixão...

É isso que a morte traz... Um pedaço de harmonia,

um gosto triste de agonia, de Deus um aperto de mão!

(às 22:04 hs de 04/04/2008).

Mariza Monica
Enviado por Mariza Monica em 04/05/2008
Código do texto: T975222
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