Rituais

Tudo na vida é feito de rituais.

Os rituais são muito simples e quase imperceptíveis.

Eles nos passam de uma etapa para outra;

se uma etapa não for concretizada, as seguintes não terão efeito.

Os rituais são usados no cotidiano de qualquer um.

São, na realidade, nossos hábitos.

Trazem muito prazer, concentração e liberdade.

Reequilibram o psíquico, o material e o espiritual.

Não são prisões, regras e princípios.

O amor também é feito de rituais:

o de um ser humano pelo outro.

O beijo de agradecimento após um elogio,

o obrigado após um favor ou uma cordialidade.

Tudo isso numa seqüência gradativa:

desde a hora de marcar o encontro

até a última despedida, após o amor.

Na realidade é uma gradação instável,

como o da cobra que luta para morder sua própria cauda,

e depois que consegue, solta-a para recomeçar tudo de novo.

A prática dos rituais é erótica.

Não o erótico ligado somente ao prazer sexual,

mas também ligado à força pela vida.

Nela os planos do afeto não são uniformes.

Quem não faz um ritual de luto, individual,

fica deprimido, preso, tendo algo vivo que já morreu.

A falta de noção da morte causa a melancolia permanente.

O choro é o ritual de galardão ao que desce à mansão de Hades, que morre.

A morte é o fim da vida,

perda de uma vida, nossa,

e sem a noção de perda não há liberdade.

Então, sinto que estou preso à minha vida.