QUEM ÉS?
Arvora-se minha alma
Em dores profundas, em lamentos
Nas insônias de minhas madrugadas.
Move-se meu espírito
Em gemidos doloridos
E quebra-se o cálice
De minha existência.
Pão e água estão a minha mesa
Mas paz falta-me
Os meus olhos não enxergam
O além das aparências
Que me apresentam.
Pesas sua mão sobre minha cabeça
E aborrecida fico
Com a vida que não te pedi.
Nega-me o entendimento e
Dilacera minha alma sim.
Nem do alto, nem dos montes
Escuto tua voz, mudo estás,
E me sinto então algoz
De mim mesma, de meus tormentos.
Amarga-me o pão à boca
Não mata minha sede
A água que me dá de beber,
Em pedaços me sinto
Despedaçada por dentro.
Nem cinzas, nem ungüentos
Aliviam minhas dores
Obscurecido está o meu espírito
Não tem perfume nem cor
Todas as flores,
Pois em vão luta minha alma
Contra os dissabores.
Pega-me o paladar
Seca minha alma está
Não encontro nem portas, nem saídas
Me encontro então perdida,
E me pergunto, se existe, onde estás?
Reis e rainhas não lamentam sua ausência
Eu, que nem te conheço, me desprezas,
Mas mesmo assim, desejo tua presença,
E incompreensível, me deixas só.
Confuso está meu coração, minha mente,
Cicatrizes marcam minha alma
Prova-me em fornalha ardente
Não consigo entender
E perdida vago em cada momento.
Quem és tu que me incomoda
Desta maneira, que tens o direito
De me passar por fina peneira
E não me dizes o que queres,
Me enfraquecendo a vida
Deixando-me em pó
Em vestígios de poeira?
Não tem graça nem sabor a minha vida
Em desventuras me afogo
Deixando rastros de lutas vãs
Todas perdidas, não vale nem mesmo
O ar que respiro, pois contaminado
Pela minha infelicidade está,
Como uma erva daninha, o joio
Que brota para acabar
Com os frutos que germinam em
Terra sã, e que separado, deve ficar.