E lá está a barca...

E lá estava a barca

Ancorada ao lado do trapiche

Madeira velha enegrecida

Que rangia devoradora

A água sem visão

Uma névoa com odor de mistério

Afogava os delírios

Os detidos retidos

Não idos

Nem ungidos

Forçavam o etéreo

Sobre desavisados

Pesos de almas

Que lançados submergiam engolidos pelo sem fim...

E lá estava a barca

Balançando sua calma

A pressa não se fazia

O que era seria

E seria pelo que era

Toda ela

Desde as cracas somadas

Pelos anos andados

Pelas imagens

Pelas margens e vidas

Idas e vindas...

E lá estava a barca

Serviçal, calada...

Uma ou outra resmungância

Sob a onda que sedutora resvalava

Tapas dados à anca

Molhada, rasgada

Repousada sobre a superfície do estige.

E la estava eu...

Parado a olhar a barca

A visão era imaginar-me

Sentado ao meio da batera

O barqueiro cantando cantigas da noite

Eu me rindo

Indo ao leito

Outro lado do rio!!!