O Milagre de Santa Luzia

Pego a minha traia

Antes que a chuva caia

E adentro o sertão

Não tenho medo de tocaia

Gosto de mulher de saia

E não me aparto do facão

Eu ponteio a minha viola

Em noite de lua clara

A morena me consola

E o meu cavalo dispara

Moro lá no pé da serra

Num simples bangalô

A cabocla me espera

Com o coração cheio de amor

Essa cabocla é a Luzia

E os teus olhos é uma magia

Tem o nome da Santa

Porque a cegueira era tanta

Que não enxergava o dia

O nosso namoro começou

Na porteira da fazenda

Minha alma se enfeitiçou

Por aquela linda morena

Nas noites de luar

Pelos campos dois amantes

E nas raízes do jequitibá

Ficávamos como diamantes

Aquele brilho do amor

Iluminava o sertão

Era um esplendor

O nosso beijo e a paixão

Luzia chorava em meu peito

Querendo a minha face enxergar

Fazia do meu corpo um leito

E dos pensamentos um mar

Um mar de felicidade

Berço de sentimentos

Procurando a eternidade

Em todos os momentos

Fomos a uma capela

Num pequeno povoado

E à uma Santa bela

Decretamos o noivado

Nossas mãos entrelaçadas

Numa grande emoção

Em pensamento pedi a Vírgem

Que lhe desse a visão

Guardei comigo o mistério

E marcamos o casamento

No mesmo dia da vírgem

Aquele sacramento

Todas as noites em meu canto

Fortalecia a minha fé

Pedia a Deus e à Santa

As vistas para aquela mulher

Chegando o dia do casório

E o povo na animação

Fomos até ao cartório

Pra registrar a união

Minha mãe ao meu lado

Do outro o meu irmão

Já estava confirmado

Com aquele tabelião

Saimos dali sorridentes

Felizes e abraçados

Ali amigos e parentes

No civil já casados

Cada um pra sua casa

Ainda restava a capela

E lá ela estava

Iluminada à vela

Vesti o meu simples terno

Que o meu velho pai deixou

E fui rumo ao Pai Eterno

Que sempre me abençoou

Os meus olhos marejavam

Ao ver tão lindas flores

Os presentes admiravam

A casa dos dois amores

A capela não cabia

Aquela multidão

Era o alvoroço do dia

Parecia uma procissão

Mais parecia um violino

Mas era um carro de boi

Ele trazia o meu destino

Que traçado por Deus foi

Luzia se vestia de branco

No chão se arrastava o véu

Em teu sorriso o encanto

Como as estrelas no céu

Ao som de uma viola

Se ouvia a Ave Maria

O mundo é mesmo uma escola

E um grande amor uma magia

Do seu pai a recebi

Dando-lhe um leve beijo

E logo percebi

O teu grande desejo

O padre abençoava

E seguia o ritual

A passarada cantava

Mais parecia um coral

Dobramos os nossos joelhos

E curvamos as cabeças ao chão

Arrepiei os cabelos

De tanta emoção

Na hora do sim,a magia

E que acabou com o desgosto

Pedi à Virgem Luzia

Que desse visão àquele rosto

Naquele momento Luzia

Enxergou-se um clarão

Olhando pra toda a igreja

Viu-se o milagre então

Foi uma obra de Deus

O que acabo de contar

Nos pensamentos meus

Pra sempre vou guardar

Confirmo que eu e a Luzia

Amamos loucamente

Temos o João e a Maria

Frutos dessa semente

Vou levar flores a luz

Como a luz do dia

Agradecer a Jesus

Por esta grande alegria

À minha Santa Luzia

Levarei o meu coração

O milagre que ela me deu um dia

Está cravado na face

Face da minha razão

Razão de viver com harmonia

Ao lado da esposa Luzia

Que só sairá de mim

Quando eu for pro torrão

Sendo assim o meu fim...

Este milagre de Santa Luzia

Levarei dentro de mim!

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 05/12/2009
Reeditado em 13/12/2011
Código do texto: T1961381
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