Confissão de um Desesperado

Hoje eu não dormi direito

Passei a noite arrastando-me no medo

Mas isso não é mais segredo

Sou assim mesmo, quando estou no leito.

Em vez de sonhar com os anjos, espreito

Os assuntos do peito, e choro, e corro

Às vezes peço socorro,

Às vezes fujo, como um covarde

Não faço o menor alarde...

De medo, faço segredo, morro!

Mas não me considero um covarde

Só tenho as minhas confusas idéias

Por isso vagueio por entre sombras...

Penso que já é bem tarde...

Pego-me, muitas vezes, com a panacéia.

Na busca de uma saída, meu corpo tomba

Minh'alma, fragmentada, põe-se em coma.

No leito, ela se recorda, e, acordada,

Vê as pragas, vê as chagas, andeja.

Por entre as plagas desérticas

Vê-se diante de cromossomos desesperados

Sabe em quantas partes divide-se o corpo

Entende que quanto mais vivo

Aqui, jaz, um rei morto.

Num prato, numa bandeja,

Um corpo, uma alma, agonias proféticas.

Lada-a-lado com a misericórdia

Uma promessa de passados,

De um presente incerto,

De um sonho agonizante...

É a vida de quem vê distante...

Na terra, ama o que está por perto.

Só em apuros reflete, por um instante...

Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 17/07/2010
Código do texto: T2383338
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