EU AMO A MORTE

Eu amo a Morte,

Não a morte matada

Nem a morte morrida

Eu amo a minha mãe querida

Aquela que realmente me deu a vida

Meu querido Ikú, só posso amar você!

Porque quando as Potestades Celestiais

Se reuniram para as nossas vidas traçar

Tu que na realidade é um Orixás!

É Ikú mas também é Ìyá-mi Òsòròngà (um grande ventre)

foi transformado em morte na linguagem dos Yorubás

Sentadinho num canto estava a observar

Olórun quebrar a cabeça e os demais Orixás a lhe ajudar;

Todos Eles corriam pra lá e pra cá,

Procurando uma maneira para forma nos dá

Apresentaram várias “coisas” mas nenhuma delas

Serviu para nos modelar!

Umas derretiam, outras o fogo consumia

Então, valeram-se da “senhora Lama”,

Mas esta se danou a chorar!

Os deuses orixás, coragem não tiveram para a “Lama” carregar

Foi então que você Ikú, que é “Morte” em Yorubá

Destemida como és, se levantou e a “Lama” (eerúpé) foi pegar

E não teve misericórdia do pranto que eerúpé passou a derramar

Levou eerúpé a Olódúmarè, o Deus de todos os Orixás

Que foi logo pedindo a Òrisàlá, que com a ajuda de Olúgama,

Passaram a nos formatar!

OS “Bonequinhos” foram tocados

Por todos os orixás, que era para abençoar,

Olódúmarè satisfeito, seu hálito assoprou e

Os “Bonecos” criaram vida, acreditem!

E naquela mesma hora, começaram a falar,

A andar e gargalhar. Foi uma grande festa,

A festa da criação, e a partir daquele instante

O planeta já tinha “Irmãos”.....

Olódúmarè no entanto, disse para Ikú,

Fostes tu quem dera um jeito, e Eles

Saíram perfeitos, então és tu quem deve

Em seu lugar a qualquer momento recolocar

Foi ai que surgiu a ingratidão, arrogância do homem na proporção de sua ignorância.

O homem na "infância", achou que tudo o que se criou

foi feito para ele,

Então o “boneco” se encheu de razão

E para a “Lama” não quis mais voltar

Virou um falastrão, canalha e safadão

Para fugir da responsabilidade de um dia

Para a “Lama” retornar, deitou a língua em Ikú

E passou a difama-lo. Inventou as piores coisas

Para inimigo ficar, achando que assim,

Da Morte iria se livrar.

Passou a difamar Ikú, para mais aliados encontrar,

E saiu pela terra inteira soltando

Boataria em todos os lugares.

Se escondeu de todos as formas para Ikú ludibriar

Inventou cosméticos e plásticas

Para Tânatos não encontrar.

Quando viu que não tinha jeito, se entupiu

De remédios para o regresso retardar.

Mas tudo isso é besteira,

Pois Ikú tem natureza própria!

Não fica fixa num lugar

Tem o mundo inteiro pra rondar

E quando chega a sua hora, vai lhe levar embora

Pois tem outro para fabricar.

Então querido Pai/Mãe

Quando chegar a minha vez venha me buscar,

E sorrindo vamos juntos o caminho trilhar

Pois lá é o meu lugar

E é lá que devo morar!

Ainda quero agradecer a quem me deu a forma

E aguardar uma nova aurora,

Para continuar a caminhar.