Contemplar-te-ia, Caso Não Fosse tão Sensato

Às vezes, arrependo-me das coisas que não fiz,

Das aventuras que severamente disse não,

Das fantasias que não saíram dessa condição,

Dos universos que rejeitei porque não quis.

Eis aí o meu defeito: ser correto demais,

Sou escravo dos meus valores e da minha imagem,

Intelectual exemplar, pois sim, cidadão modelo,

Criei o fardo da minha vida: a minha modelagem,

Terno, gravata, óculos de grau e gel no cabelo.

Quisera eu não ser por um dia eu mesmo...

Correr pela praia livre dos meus paradigmas,

Sentir a brisa suave, a ondulação do relevo,

Aventurar-me por um mundo cheio de enigmas,

Abraçar a liberdade do mundo sem resvelo.

Ver-te-ia, querida dama, caso não fosse tão prudente,

Almejar-te-ia, se não estivesse oprimido por mim mesmo,

Provar-te-ia, caso em ti não me sentisse tão ausente,

E é por isso que, sedento pelo meu ego, escrevo e escrevo,

Pois sim, a fim de me aliviar desse conflito tão evidente.

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Fábio Pacheco
Enviado por Fábio Pacheco em 30/09/2006
Reeditado em 01/10/2006
Código do texto: T252757