Cataventos solitários

Um dia desses Ele me chamou pra conversar, foi inevitável.
Sempre pensei comigo mesmo que esse dia nunca chegaria.
Aquele contato impôs-se absoluto, irresistível.
Eu não O conhecia, mas desconfiava da Sua existência!

Sem acreditar no que via e ouvia.
Fui me rendendo, derrotado ante ao impacto de tão inexorável contexto.
Aquele diálogo insólito varreu minhas defesas, derribou minhas resistências.
Mais parecia um monólogo dilacerador de certezas.

Foi revoltante e ao mesmo tempo instigante.
Concluir diante da crueldade dos fatos inegáveis.
Minha própria irrelevância.
Nenhum argumento, nenhuma defesa em meu favor.

Não se tratava de um jogo, é claro!
Mas das intrincadas maquinações do destino.
Me senti como um protagonista de ancestrais desilusões
Arremetido contra o implacável rochedo da verdade.

Naufragara em mim a nau  das ilusões de outrora.
Esperanças frágeis esfumaçaram-se no nada.
Um cadáver abandonado em decomposição
Ao sopro suave dos cataventos solitários da agonia.

Forçado a ouvir Suas palavras.
A realinhar meu ser em torno da nova realidade.
Navegarei no rio turbulento das lágrimas desesperadas.
Na barcaça deslizante e insidiosa de um  futuro incerto.