Bagagem

Uma fina chuva cai obstinadamente

até onde a minha vista pode alcançar

gotas pequenas e frias

deslizando em minha face

molhando meus cabelos

aguando meus pensamentos

sentado sobre minha bagagem

sinto o silêncio do mundo

enquanto olho fixamente

para os dormentes de trilhos

sem nenhum trem

madeiras tão velhas

carcomidas pelo tempo

trilhos que não levam

a lugar algum

que não começam

nem terminam

existem tão somente para

aquela velha estação

ali estou eu, sozinho

com a alma velha demais

carcomida pelos erros

de tantas vidas

quando penso em tudo que fiz

bem além do que posso ver

onde posso apenas sentir

fico assustado

pois quase posso tocar

as pessoas, as tristezas

as amarguras, a dor que causei

escondidas atrás desse fino véu

obstinadamente

permaneço aqui

sentindo a chuva tocar a minha face

sentado sobre minhas velhas bagagens

a espera de um trem

que virá de lugar algum

com destino a nenhum lugar

eu sou a chuva

e também o silêncio

eu sou a estação

e o meu próprio trem

a espera do momento pra seguir viagem.

Erminio Rezende
Enviado por Erminio Rezende em 11/03/2011
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