Mephistopheles Me Virou As Costas

Imaginando o desejado,

Pensativo sobre os problemas,

Idiossincrático e apaixonado,

Envolto em algo que me condena.

A solução não aparece,

Por mais que se espere,

O ânimo por fim arrefece,

A esperança não me segue.

As portas se fechando,

Nenhum chaveiro presente,

Um Fausto que segue espiando,

O quadro se faz comovente.

Onde está a inspiração?

Nenhum demônio auxilia,

Deus já se toronou abominação,

A realidade é deveras corrosiva.

De que adiantam preces,

Não há quem as escute,

Mesmo que um sonho reste,

Será decomposto como estrume.

Nada de apelos apaixonados,

O coração está selado,

O lacre só poderá ser quebrado,

Quando eu for aniquilado.

Minhas experiências seguem,

Nesse ritmo de senso comum,

Eu aceito, há quem negue,

Viver é uma tragédia nesse mundo.

Os pactos são tão mentirosos,

Quanto orações e deus,

Existe apenas sofrer dos corpos,

Um falso ego se dizendo "eu".

Mephistopheles me virou as costas,

Nem me deu a oportunidade,

Sigo a trajetória de vagorosas horas,

Contando com desgosto a idade.

O sofrimento pós acordo demoníaco,

Valeria pela glória do momento,

Mas só resta esse pesadelo contínuo,

A paz inexiste nesse sofrimento.

A possibilidade de chorar me escapa,

Parece que os olhos se recusam,

Também me negam aliviar em água,

Diante do espelho apenas me acusam.

O sobrenatural é humano,

Que se pensa sobre sendo sob,

Humus abaixo de um telúrico plano,

Animal arrogante assim nunca houve.

De cabeça baixa,

Feito Pensador de Rodin,

Expressão sorumbática,

Estética de aparência malsã.

Folheando manuais

À procura de emprego,

Sem criar teses originais,

Nem livros de religioso roteiro.

As necessidades são básicas,

Alimentação, por exemplo,

O discurso que vemos é de boa lábia,

Enquanto o grosso populacional sem provimento.

Se todos pudessem conversar com o Diabo,

Parece ser mais maleável do que o ciumento deus judeu,

Mas nos contetamos com um monólogo diário,

O máximo de resposta é um eco que no espaço se perdeu.

Vejo o olhar das crianças,

Se é que são mesmo inocentes,

Logo entrarão nessa dança,

Quem sabe promissores delinquentes.

Não estamos no Paraíso Perdido de Milton,

Estamos sem paraíso algum para desfrutar,

Só que nos sentimos muito mais perdidos,

O desespero aflora a ânsia selvagem de urrar.

Ao acordar o pacto que faço é comigo mesmo,

Vou encarar a vida por mais dura que seja,

Quem sofre aprende a fazer pouco caso do medo,

Construindo seus alicerces nas incertezas.

Continue de costas pra mim Mephistopheles querido,

Como epígono de Brutus irei te apunhalar por trás,

Cravando em seu dorso tenro a lâmina afiada no esmeril,

Só assim a minha sede assassina por ti se satisfaz.

Matando você, levo junto a ilusão,

Destruo essa metafísica barata,

Trazendo a força de volta às minhas mãos,

Minha potência será a única exaltada.

Serei o Demônio que cospe na face do deus que crio,

Serei o Deus que pisoteia o diabo que alimento,

Serei a morte do bem e do mal num estado primitivo,

Serei o único que dessa tragédia seguirá sobrevivendo.