Nocturno

Espírito que passas, quando o vento

Adormece no mar e surge a Lua,

Filho esquivo da noite que flutua,

Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento-

Que voga e subtilmente se insinua,

Sobre o meu coração que tumultua,

Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva

Um instinto de luz, rompendo a treva,

Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,

A febre de Ideal, que me consome,

Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

Antero de Quental, in "Sonetos"

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 17/04/2012
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