Julgamento final
Estava um belo dia
O sol brilhava como nunca
Em todo o mundo reinava a alegria.
Mas de repente num segundo
Tudo se tornou um mormaço imenso
E logo depois num escuro imundo
E com certo cheiro de incenso.
Uma voz gritou
Vinda dos confins das trevas:
- Homem, o seu dia chegou.
Foi uma gritaria, uma confusão
A voz voltou a dizer:
- Homem, chegou o dia da sua punição.
Quando as trevas acabaram
E o sol voltou a brilhar
O mundo pareceu envolto numa nuvem
E o barulho dava a deduzir
Que um julgamento estava por começar.
Em um só homem
Foi transformada a humanidade
Para que fosse dita a verdade
Que um julgamento estava por começar.
No banco dos réus, apenas um réu
E em sua frente um único Juiz;
O Juiz dos juízes; a tribuna era o céu
E o homem era o mal a ser cortado pela raiz.
- Dei-te inteligência suficiente
Para que fizesses o bem
E, no entanto, fizeste o mal.
Escolheste fazer armas de todos os tipos
Disseste que era para a paz;
Querias só para si, a Terra
Para isto escolheste o caminho da guerra.
Foi te dado o mar
Para que dele pudesse te alimentar
Nele pudesse se divertir
Mas o que fizeste foi só poluir.
A ti foi dado o céu
Para que pudesses admirar
E talvez explorar
Mas com tuas fumaças fê-lo um negro véu.
Foi te dada a terra
A preciosa terra para que pudesses viver
E nela fazeres o quiser,
Mas só a destruístes.
Foi te dado coração
Para que pudesses amar
E, no entanto, usaste este centro de emoção
Só para odiar.
Eu quis criar-te à minha imagem e semelhança
De que fosses perfeito alimentei falsa esperança;
Foste criado para cuidar das crianças
Aconchegá-las em teu peito
E não fazê-las de qualquer jeito.
Foste criado para viver sem preconceito
Mas com ele viveste até agora
Não dizes nada, pois sabes que és culpado.
Será te dada mais uma chance
Mas tomas cuidado, pois poderá recair sobre ti
A fúria colérica do Senhor
Então Homem, conhecerás o terror.
Vá embora, continue sua rústica vida
Continue sofrendo
E aprenda a curar sua ferida
Pois minhas mãos estou lavando.
Cícero – 07-09-91