Retrato de um Poeta


Razoes para ser o que sou não me faltam
Razoavelmente atento a mim em mim
Rasgo o verso e como as solas do universo
Raiva não me falta para inventar palavras

Distante de mim sou eternamente outra figura
Displicente em tudo que ao meu redor se configura
Dissimulado a ponto de satirizar a própria sepultura
Discípulo de um Deus cuja fé não mede pela altura

Inverto o que era luz e então me esqueço
Invoco o que foi Jesus e então me perco
Invento uma flor azul e então me aqueço
Invisto no que me seduz e então me deixo

Não olhes para mim como quem procura uma vela
Não meças minhas palavras como quem busca a perfeita arquitetura
Não busque aqui o outro que displicentemente em ti sepultastes
Não sou o poeta das causas impossíveis e nem tão pouco sou o Ulisses atleta.