UM POETA COMUM



Percebo
Que não sou um poeta das rimas
Das palavras encaixadas com bom gosto
Das frases simétricas
Do vernáculo complexo e obscuro
Que ao invés de cativar leitores constroem muros.


Percebo
Que não sou um poeta dos corações apaixonados
Dos amantes incontroláveis
Das mulheres que sonham acordadas
Dos homens que desejam ser amados
Mas que só enxergam o seu lado.

Percebo
Que não sou um poeta tradicionalista
Das viúvas bucólicas
Dos velhos solitários
Das manhãs frias e sem graça
Que só dão vontade de continuar na cama.


Percebo
Que não sou um poeta divino
Das idéias revolucionárias
Das frases extraordinárias
Que provocam calafrios
E depois viram armas nas mentes fanáticas.

Percebo
Que sou um poeta comum
Das coisas comuns
Do sentimento humano e verdadeiro
Que por mais que brotem de mim
Não são só meus são do povo brasileiro.