AUTO-DE-FÉ

Há de vir o dia.

Sempre existiu a esperança

No pesar, na agonia.

O sonho fúlgido, leve borboleta,

Vive, pleno, na vida furtiva,

Seguindo mais além de si.

O silêncio apara a inútil palavra,

Magistralmente na longa espera:

Sangrando memórias, erguendo alicerces.

Os novos olhos, na sombra, indagam

A noite sacra de catedrais e minaretes:

Surgem, no ocaso, a prece e o toque de recolher.

Deus, Alá, alma rubra sorvendo o azul,

Salmos nos suras. Dois rios, um único mar:

Hinos de amor e de fé, sem exaltação.

Há de vir o dia.

Agora, eis a confissão.

Depois, quiçá, o perdão.

© Jean-Pierre Barakat, 02.06.2007

Jean Pierre Barakat
Enviado por Jean Pierre Barakat em 03/06/2007
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