Estória de Aguaracy da Cobra Coral
Heiaaaaaa!!!!!(Grito indígena antes de iniciar a poesia)
Vem de dentro da floresta
O cantar puro e divinal,
Heia, heia, sagrada Mãe Floresta
Quem vos fala aqui é teu Cacique
Aguaracy da Cobra Coral!
Pai de tantos filhos,
Paraguassú sendo o primogênito
Cobra Coral meu segundo filho
Coral da Pedra o derradeiro
Cinco Corais pra completar as raízes
Como protetor: Coral da Demanda
Grande guerreiro: Coral do Rio
E na força física: Coral das Montanhas
Aqui começa essa estória que vos conto
Em perfeita harmonia muitas tribos a viver
Comendo e vivendo da água e do alimento divino
Na Terra onde o sol banha em luz o amanhecer
Mas entre tantas tribos, havia uma apenas
Que a força da guerra insistia prevalecer
E foi justamente, nessa tribo inimiga
Que veio a linda cabocla Jurema nascer
Era cabocla formosa e bela
Forte e serena feita a luz do sol
Portava seus arcos e fechas certeiras
No cabelo sempre um girassol
Era filha do grande Cacique
Que de nossa tribo não tinha amizade
E cresceu linda a menina cabocla,
Já tão cheia de luz com tão pouca idade
Porém veio o destino querer o reencontro
Entre nós e a tribo rival, o sentimento nasceu
Jurema e Cobra Coral eram uma só alma
E amor entre os dois ali prevaleceu
Jurema deixou sua tribo, sua casa
Em meu filho Cobra Coral, encontrou abrigo
E do fruto amado nasceu Águia Branca
Luz abençoada daquele amor proibido
Mas a tribo de Jurema não havia aceitado
Que Jurema estivesse na tribo do inimigo
E guerra a nós, eles decretaram
Como fogo era o ódio dessa outra tribo
Paraguassú, meu filho mais velho
Queria aceitar o desafio do lutar
Mas esse Velho que aqui vos fala
Da última palavra teve o comandar
Ao som de atabaque, mandei meu recado
Minha tribo pra guerra eu não iria mandar
Pois a Lei de Tupã a muito já nos saudava
E a paz era o caminho, não o guerrear
No entanto a tribo não conteve sua ira
E logo após Águia Branca nascer
Capturaram Jurema e Cobra Coral
Sob a luz escura do anoitecer
Covardemente amarraram Cobra Coral e Jurema
Ao tronco gigante duma frondosa árvore
Entre labaredas de fogo os dois morreram
Por aqueles que no peito só tinham maldade
Das cinzas sobradas do ato maldoso,
Nasceu uma flor branca , flor da paz,
É o símbolo que restou daquele amor infinito
Esperança de luz para a tribo dos Corais
Sofri muito, chorei minha dor junto a Tupã
Enquanto Paraguassú meu filho não entendia
Que mesmo diante dos acontecimentos
Esse velho cacique, a guerra não concebia
Como seres que atuam na escuridão
Durante a noite essa tribo nos atacou
Fui acordado entre choros e gritos
E minha tribo quase toda se dizimou
Paraguassú em puro sofrimento
Com uma flecha de fogo ao peito me olhou,
E levado pelas mãos divinas do astral
Em seu último suspiro, por justiça bradou.
Dos Corais, restou a mim e Coral da Pedra
Foi quando o desgosto tirou de mim o viver,
Morrendo logo após tão covarde confronto
Junto à morada de Tupã fui em luz renascer
Coral da Pedra, meu filho mais novo
Não suportando minha súbita partida
Saltou do alto das pedras brilhantes
Tirando a centelha divina, sua vida
Assim morria o último dos Corais,
Voltando assim ao plano espiritual,
Na Lei de Tupã iluminei meu caminho
Pra juntar um a um, toda a Tribo Coral
Foi assim que recebi da Lei Maior um tesouro
As chaves de luz, um presente infinito,
De comandar na Terra grandes guerreiros
Filhos e semente do Olhar Divino
Essa é a estória desse Velho Guerreiro
Que vos fala do caminho da luz espiritual
E firmo, no céu, na Terra, no Mar,
Sou Cacique Aguaracy
Da Tribo Cobra Coral!