AS CORES DA BORBOLETA

Eu vou lhes contar caso antigo

como o Nosso Senhor coloriu

as asas sem graça da borboleta.

Vinha de longe, a criatura

de não sei onde, de quando

não se sabe, planava livre

e quando pousava deslize.

Onde esteve, aonde ligeira?

Nem sempre colorida fora

no quando criada, do barro

como tudo o mais, era pálida

de um ou dois traços apenas.

Mas veja, eu lhes conto...

Flutua veloz e num instante

será paleta viva das cores

é asa ritmada, a borboleta!

Foi o caso, inútil farfalhar de

cegas asas, chegara com atraso

o inseto vesgo na cena onde

o Nosso Senhor fraco expira.

Pequenina vontade de pernas

compridas , cruzou oceanos...

Maior milagre já se viu?

Chegou a borboleta, seguiu a luz

do alto projetada na chuva mansa

luz em nuvens molham a terra

colore os homens em arcos íris.

Obstinada, vem ouvindo o clamor: Aba!

Como se visse cores pingando horizontes.

E chega com atraso, como se dizia,

o inseto pálido cansado ao horto,

às oliveiras, à nossa última agonia.

Chega no instante em que os olhos

meigos e mansos de Nosso Senhor

se fecham para o triste espetáculo.

Nesse momento, eis o milagre:

sobre as janelas da alma eterna

das chagas do Nosso Senhor

num gesto de puro abandono

dos espinhos ainda firmes, goteja

num salto triste uma gota sobre

as asas sem graça da borboleta.

Assim se explica, diante de toda gente,

como pôde o pintor colorir habilmente

nas asas inquietas a beleza paralisante.

Escutai: do caso fica a lição!

uma gota é o quanto basta

se cai exata, tudo é amor.

Antônio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 20/03/2016
Reeditado em 20/03/2016
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