AS CORES DA BORBOLETA
Eu vou lhes contar caso antigo
como o Nosso Senhor coloriu
as asas sem graça da borboleta.
Vinha de longe, a criatura
de não sei onde, de quando
não se sabe, planava livre
e quando pousava deslize.
Onde esteve, aonde ligeira?
Nem sempre colorida fora
no quando criada, do barro
como tudo o mais, era pálida
de um ou dois traços apenas.
Mas veja, eu lhes conto...
Flutua veloz e num instante
será paleta viva das cores
é asa ritmada, a borboleta!
Foi o caso, inútil farfalhar de
cegas asas, chegara com atraso
o inseto vesgo na cena onde
o Nosso Senhor fraco expira.
Pequenina vontade de pernas
compridas , cruzou oceanos...
Maior milagre já se viu?
Chegou a borboleta, seguiu a luz
do alto projetada na chuva mansa
luz em nuvens molham a terra
colore os homens em arcos íris.
Obstinada, vem ouvindo o clamor: Aba!
Como se visse cores pingando horizontes.
E chega com atraso, como se dizia,
o inseto pálido cansado ao horto,
às oliveiras, à nossa última agonia.
Chega no instante em que os olhos
meigos e mansos de Nosso Senhor
se fecham para o triste espetáculo.
Nesse momento, eis o milagre:
sobre as janelas da alma eterna
das chagas do Nosso Senhor
num gesto de puro abandono
dos espinhos ainda firmes, goteja
num salto triste uma gota sobre
as asas sem graça da borboleta.
Assim se explica, diante de toda gente,
como pôde o pintor colorir habilmente
nas asas inquietas a beleza paralisante.
Escutai: do caso fica a lição!
uma gota é o quanto basta
se cai exata, tudo é amor.
Antônio B.